Por Helenn Cordeiro

Para quem pensa que no Marrocos irá encontrar só antiguidades e cultura muçulmana radical, está muito engado, pois as modernidades globais já chegaram lá também. Traços ocidentais são facilmente vistos em qualquer cidade marroquina.

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Passeio no Deserto do Saara.

Foram dez dias nos quais um grupo de agentes de viagem e outro de jornalistas, cerca de 230 ao todo, passaram num dos mais exóticos lugares do mundo. Eu estava entre eles e vou contar um pouco do que essa viagem causou em mim.

O ponto de partida foi Casablanca, uma cidade organizada, limpa, dona de praias exuberantes (são 35 quilômetros de praias públicas) e, acima de tudo, hospitaleira. A primeira estadia foi no Novotel Casablanca City Center, quatro estrelas, localizado no centro de Casablanca, a poucos passos da estação ferroviária Casa Port, com vista para a Mesquita Hassan ll e o porto de Casablanca. A vista da janela do meu quarto era simplesmente as boas-vindas ao Marrocos, linda, iluminada e apaixonante. Num passeio noturno feito pelas suas ruas, notei que há somente homens, sentados nos bancos das praças e nos bares, todos muito próximos, com mãos dadas, nada de mulheres (elas não podem entrar nos “cafés” – bares), e todos os olhares estavam voltados para o nosso grupo, a diferença entre nós é nítida.

Amanhece o dia, e como não podia deixar de ser, o primeiro lugar que visitamos foi a Mesquita Hassan ll, ao lado do oceano Atlântico, a maior do Marrocos e a terceira mais importante da religião islâmica. Com uma arquitetura deslumbrante, rica em detalhes (todos feitos à mão) e uma surpreendente tecnologia empregada na sua construção, pois tem parte construída em cima das águas do mar e seu minarete possui 200 metros a partir do seu nível. Além disso, é a única que libera a visita em seu interior para não muçulmanos. Em seguida, passamos pelo famoso Rick´s Cafe, do filme “Casablanca”, e partimos para Marrakech, local onde almoçamos a tradicional comida marroquina, com seu prato principal, o cuscuz (as mulheres devem saber fazer a iguaria antes de se casar), no Al Maaden VillaHotel & Spa, cinco estrelas, e conhecemos suas dependências, bem como seu imenso campo de golfe. Ali pude ver meu primeiro pôr do sol no Marrocos.

Entre um passeio e outro, uma das coisas que mais me chamaram a atenção, até pelo fato de adorar felinos, é que nesse país há gatos por todas as partes, quase não se vê cachorros. Os nativos preferem os bichanos por serem mais limpos do que os cães, porém, mesmo assim eles não ficam dentro das casas, e são muito bem tratados. Em muitos restaurantes, havia gatos ao redor das mesas e as pessoas davam de comer a eles (ato que me deixou extremamente contente).

À noite, o alojamento foi no Hôtel Kenzi Menara Palace, um palácio exuberante, com uma piscina gigante, na qual o céu estrelado fazia o seu azul ficar ainda mais belo. O jantar foi no restaurante Fantasia Borj Bladi. Nele, tivemos uma recepção dada somente a celebridades, com direito a apresentação de um casamento fictício, competição entre cavaleiros, folclore marroquino e passeio de dromedário, para ir se acostumando quando chegar ao deserto do Saara. Lembrando que no Marrocos não existem camelos, mas dromedários. A diferença entre eles está no número de corcovas (camelos têm duas corcovas e os dromedários, uma), na altura (dromédário é mais alto que o camelo) e no tipo de pelo (dromedário tem pelo curto). O camelo (Camelus bactrianus) é encontrado apenas na Ásia Central, ao passo que o dromedário (Camelus dromedarius), conhecido como camelo árabe, espalha-se não só por parte do continente asiático como também pela África.

Ao amanhecer, a nossa próxima parada em Marrakech foi a Mesquita Koutoubia. Localizada no centro, possui uma torre com 77 metros de altura, que é rosa. Foi iniciada pelo primeiro sultão, Almohade Abdelmoumen em 1158, e acabada pelo seu neto, Yacoub El Mansour, em 1190. Nesses últimos anos, tem combinado várias funções, tais como: biblioteca, universidade e escola. Depois, foi a vez do Túmulo Saadian, localizado ao lado da Mesquita Kasbah. Construído por Ahmed El Mansour Eddahbi (1578-1603), o maior dos governantes Saadian, no fim do século XVl. Guarda os túmulos da família Saadian e de pessoas ligadas ao sultão. Há três mausoléus em destaque, sendo o mais imponente o do sultão saadi Muley Ahmed Al Mansaour e seus sucessores. Misturado com o som das ruas está o do alto-falante chamando os discípulos de Alá a se voltarem para a Casa de Deus em Meca e fazer suas orações.

A próxima parada é o Palácio Bahia. Foi projetado pelo arquiteto Muhammed al-Mekki de Marrakech e é definido por amplos jardins. O seu plano geral inclui uma mesquita, além de vários cortes em azulejos rodeados de salas de recepção decoradas de uma forma rica com salas privativas. O programa da decoração do palácio consiste em estuque esculpido e pintado de madeira e telha vidrada de cerâmica. Seguimos ao restaurante Dar Essalam dentro da medina e em seguida à Praça Djemaa el Fna, onde estão os souks – as famosas lojinhas de Marrakech. Nelas, é possível encontrar de lenços a antiguidades árabes. Sabendo negociar, você consegue baixar o preço de cada peça em até 80% (é o local mais apropriado para negociar, nas demais cidades não se consegue tanto desconto). Os diferentes comércios estão agrupados pelos seus serviços: tintureiros, babouche (sapato típico) e marcadores de sapatos, especiarias, lojas de tapetes e fabricantes, entre outros. O dia acaba com a animação popular em que vários artistas, como: encantadores de cobras, contadores de histórias, bailarinos, macacos domados, aparecem no fim de tarde para entreter o público como num teatro ao ar livre. Para chegar ao local do jantar, caminhamos por ruas estreitas, rodeadas de casas, muitas sem nenhuma pessoa na rua (as casas têm minijanelas com grade, para que a mulher não possa ser vista). No restaurante Ksar El Hamra, localizado próximo à Praça, novamente uma recepção calorosa nos esperava.

No dia seguinte, partimos para Ouarzazate, através da Tizi N’Tichka na cordilheira do Alto Atlas, que se situa a 2260 metros de altitude. Agora sim encontramos dois lugares bem pacatos, mais simples, a Kasbah de Taourirt e Kasbah d’Ait Ben Haddou, no qual pudemos visitar uma casa típica, feita de adobe, um material que contém o calor. O almoço foi no Kasbah Ait Ben Haddou, e dessa vez não tinha só cuscuz, apareceu uma omelete. Em Ourzazate, conhecemos o Studio Cinema, o local onde foram gravados alguns filmes, como Joia do Nilo, Cleópatra, Lawrence da Arábia e algumas cenas do Gladiador; um lugar para ficar na memória, grandioso e fascinante. Mais tarde, novamente fomos recepcionados, agora no Palácio do Congresso da cidade. Depois, para o Ibis Moussafir Ouarzazate. Após o jantar, o happy hour foi garantido ao lado da piscina.

Após uma noite bem dormida, partimos para Boumalne Dadès, uma cidade do sul de Marrocos, situada no vale do rio Dadès, a cerca de 100 km a noroeste de Ourzazate, que faz parte da região de Souss-Massa-Draâ e da província de Tanger. Tomamos um do coffe break no Xaluca Dadès e continuamos aos desfiladeiros de Todra. Um lugar cheio de penhascos e uma corredeira de tirar o fôlego.

O almoço foi em Kasbah Xaluca e logo partimos para Merzouga, uma pequena aldeia berbére localizada no deserto, a cerca de 35 km de Rissani, 40 km de Erfoud e 20 km de distância da fronteira com a Argélia, para passeio de camelo e passar a noite no deserto do Saara, e diga-se da passagem “que noite”. É incrível como o céu é estrelado e existe uma paz, num lugar não habitado, cheio de mistérios e luxo, sim, luxo, pois as tendas tinham cama, banheiro e até chuveiro com água quente. Levantei cedo para ver o nascer do sol, uma das imagens que não me sai da cabeça.

Pela manhã, regressamos a Erfoud e logo em seguida partimos para Fes. Paramos para almoçar no Hotel Taddart em Midelt. Chegamos ao destino e ficamos hospedados no Zalagh Parc Palace Hotel.

Mais um dia de exploração, vamos à parte mais antiga da cidade, andando em suas vielas. Visitamos o portão do Palácio Real e o primeiro mellah (bairro dos judeus) construído no Marrocos durante o século XVl. Vimos a cidade de uma vista maravilhosa e a famosa Universidade Al Quaraouiyine, considerada a mais antiga do mundo. Depois, fomos ao curtume, no qual os couros são processados. Depois, o mausoléu Moulay Idriss. Almoçamos no Guest Palace, Gourmet & Spa Riad Fes.

À tarde, tivemos uma vista panorâmica da medina de Fes e visitamos uma cooperativa de azulejo. O jantar foi no Palais Mnebhi & Dar Fassia. No outro dia, partimos em direção à cidade imperial de Meknès, onde visualizamos vastas áreas de vinha que produzem vinho exportado pela França. Visita ao mausoléu de Moulay Ismael, que fez da cidade a capital do Marrocos durante o seu reinado, aproximadamente no ano de 1700. Logo fomos também ao seu estábulo, que tem capacidade para mais de 12 mil cavalos, e depois ao Place El Hedim. Almoço no Palais Terrab.

Pela tarde, passamos por Moulay Idriss, uma pequena cidade e município do norte de Marrocos, que faz parte da prefeitura de Meknès e da região de Meknès-Tafilalet. Ela é um dos mais importantes locais espirituais do país e também lugar de peregrinação, como é o túmulo de Moulay Idriss, um importante santo marroquino no final do século Vlll e bisneto do profeta Mohamed. Continuação em direção a Volubilis, que tem as maiores e mais bem preservadas ruínas Romanas em Marrocos. Regresso a Fes, para a recepção no Palácio do Governo, e aproveitamos a “noite de branco” no Palais Mnebbi. Ainda tivemos forças para uma balada ao som de músicas brasileiras e mexicanas no hotel Menzeh Zalagh Parc.

No 9.º dia de viagem, partimos em direção a Rabat, a capital administrativa de Marrocos, muito limpa e organizada. Nela, conferimos os jardins do Palácio Real, a Torre Hassan, o Mausoléu Mohammed V, os Jardins de Oudaya e do Chellah.

Almoçamos no luxuoso Sofitel Luxury Hotels, com seu SPA, piscina e jardins suntuosos. À tarde, retornamos a Casablanca. Passamos pela praia, na qual surfistas se misturam a um enorme cemitério. À noite, fomos ao jantar oferecido pela Royal Air Maroc no Hôtel Hayat Regency Casablanca. No domingo, pudemos curtir as praias da cidade, visitamos e almoçamos no Hotel Kenzi Tower, em que tivemos uma vista completa da cidade, e o Marocco Mall, o sexto maior shopping center do mundo. E chegou a hora de partir, passar a noite em voo e acordar na realidade, o sonho acabou!

Visitar Marrocos foi uma experiência única. Por mais que eu tente explicar, não há palavras que expliquem a beleza, os costumes, as línguas (árabe, francês, espanhol, italiano e português), o modo de ser dos nativos. O povo é muito acolhedor e simpático, tem um “quê” de brasileiro, brincalhão e muito bem-humorado. A viagem certa para quem gosta de desbravar novas culturas e viver o que há de melhor: o desconhecido.

Fotos: Franklin Freitas/Schultz Operadora