Por Helenn Cordeiro
Passagens compradas, inglês quase na ponta da língua, ansiedade à flor da pele. Quando eu decidi ir à Cidade do Cabo, na África do Sul, pensei que iria encontrar a pura cultura africana. Enganei-me. O lugar é um pedacinho da Europa dentro de um continente africano, principalmente em se tratando das praias e vinícolas. Então, perdi-me!
Programei essa viagem com o intuito de aperfeiçoar um pouco meu inglês e, claro, conhecer a escola, a população e a cultura do lugar. Fomos em 12 pessoas, a maioria eram agentes de viagem, que foram aprender a dinâmica do produto Cursos no Exterior, da Schultz Operadora.
Chegamos dia 11 de maio, à noite, lá pelas 21h, diretamente na residência estudantil Spring Tide Inn, um lugar aconchegante e com pessoas muito receptivas. Na cidade, ficamos no bairro SeaPoint, retirado do centro e muito tranquilo para se morar. Já não havia nada aberto, a não ser um posto de gasolina que nos salvou.
Na manhã seguinte, às 9h estávamos na International House Cape Town (IH), que tem escolas no mundo todo, ensinando vários idiomas, com profissionais qualificados pela Universidade de Cambridge. Além disso, segundo o jornal New York Times, a Cidade do Cabo, que recebe um milhão e meio de visitantes por ano, é uma das dez melhores cidades para se estudar. Pronto, estava no lugar certo!
Para estudarmos durante uma semana, precisamos fazer o teste de nivelamento, assim passamos a manhã na IH. Depois do almoço, fomos visitar algumas residências estudantis que a escola mantém para receber os alunos que ficam uma temporada na cidade. Há hospedagem desde a mais simples a casas enormes, com piscinas e bibliotecas, direcionadas a empresários. À noite, a IH nos levou no restaurante SeaForth. Alí, pudemos degustar os melhores frutos do mar da região e um vinho maravilhoso.
A quarta-feira foi um dia especial, conhecemos alguns projetos, entre eles o Ubuntu, uma filosofia africana que existe em vários países da África, que foca nas alianças e relacionamento das pessoas, dando um atendimento especial a crianças. A palavra vem das línguas do povo banto. Na África do Sul, nas línguas Zulu e Xhosa. Ubuntu é tido como um conceito tradicional africano e significa “sou quem sou, porque somos todos nós”.Amanheceu e, claro, hora da aula, que começava às 9h e terminava às 12h40. Depois, o dia era nosso. Fizemos um tour pela cidade, passando pelos seus principais pontos turísticos, como Cape Town Stadium; Castelo da Boa Esperança, o mais antigo prédio do período colonial da África do Sul; City Hall; Jardim Botânico Kirstenbosch, o primeiro do mundo dedicado à flora nativa de um país; Bo Kaap, o bairro com casas coloridas e mesquitas; e por último o Shopping Waterfront, ao lado do Victoria & Alfred Waterfront, uma enorme área de entretenimento, perto do porto. É muito popular entre turistas, devido à alta densidade de lojas, restaurantes e entretenimento, como o Two Oceans Aquarium ou o Museu Marinho.
Visitamos uma creche na comunidade Masiphumelele, que significa “a gente precisa ter sucesso” na língua xhosa, depois fomos a outro projeto, que também apoia crianças carentes, chamado Elisabeth Yolisa, e por fim um orfanato. Segundo Kandi, coordenadora dos projetos com crianças e famílias carentes, há muitos brasileiros voluntários e quando eles vêm trabalhar na Cidade do Cabo é maravilhoso, porque ela não precisa passar muito tempo explicando. “Muitos são de famílias ricas. Muitos estão estudando para serem advogados, médicos, e espalham a nossa filosofia pelo mundo. Os voluntários brasileiros têm feito um grande trabalho nesta comunidade. Dão suporte para as crianças, mães e avós.”
Para Kandi, os seres humanos mais ricos são muito individualistas. Nas favelas, o desafio é a aids, o desemprego, a gravidez de adolescentes, as drogas, pouco dinheiro. Muitas famílias não conseguem nem comprar comida. Geralmente, as avós são responsáveis pelas crianças e chegam a cuidar de 60 em um pequeno espaço. “Não gostamos de chamar de comunidade pobre, pois os moradores têm muita sabedoria e criatividade, mesmo tendo poucos recursos. Fazem muito na vida, sorriem muito, são alegres. Sabem como dividir”, explica a coordenadora.
À noite, deitar e pensar em como é bom encontrar pessoas felizes, mesmo com pouco. Cada sorriso de uma criança foi um presente.Elas têm muito amor e carinho para dar, tanto que assim que chegávamos a alguns dos lares elas corriam e se grudavam em nossas pernas. Não muito diferente do Brasil, onde também há muita carência em comunidades mais pobres, principalmente nas crianças.
Amanheceu e vamos para mais um dia de aula. À tarde, conhecemos um pouco da cultura africana. O District Six Museum guarda retratos da história de como as pessoas foram lesadas durante o apartheid.
À noite, a IH levou-nos ao Gold Restaurant, um dos lugares típicos da região que realmente leva às raízes africanas. Com roupas largas e coloridas, aulas de tambor e dança, os atendentes possuem uma simpatia e um gingado maravilhosos. A comida também é típica, e com muita pimenta. E a noite era só uma criança. Depois, partimos para a balada. Fomos ao Dubliners, um autêntico pub irlandês, com música ao vivo no primeiro andar e DJ no segundo.
Infelizmente, chegamos ao último dia de aula. Minha turma era muito receptiva, todos muito simpáticos, e a mistura de raças era o diferencial: tinha alunos da arábia, da Angola, do Congo, da Suíça e, claro, do Brasil. Recebemos nosso diploma e saímos em busca de mais aventura. A nossa parada foi a famosa Table Mountain, uma das sete maravilhas do mundo. Subimos até seu pico de teleférico. Ah, e como é esplêndida. O dia estava nublado e o tempo frio, mas nem por isso a subida deixou a desejar. A biodiversidade encontrada é deslumbrante, e as pedras no meio de tanta névoa traz a lembrança de um cenário de filme de terror. É lar de mais de 1.460 espécies de dassies, também conhecidos como coelhos ou hyraxes rocha, muito simpáticos e acostumados com pessoas. Na volta, já à noite, a IH nos proporcionou um belo churrasco de despedida (aquele churrasco americano, no qual são assados hambúrgueres).
E, para se despedir de tantas belezas, fizemos nosso último dia de passeios pela cidade. Passamos em uma fazenda que cria avestruz (e vende seus ovos com belíssimas pinturas. Inclusive esse item é encontrado em várias lojas da cidade), depois visitamos o famoso Cabo da Boa Esperança, o Cape Point (a ponta da península do Cabo), observamos babuínos e pinguins e mais tarde degustamos vinhos em uma das cerca de 150 vinícolas que a Cidade do Cabo possui, a Groot Constantia. Lembrando que o local tem a maior rota vinícola do mundo.
No domingo, fizemos as malas e voltamos com a bagagem cheia de conhecimento. Visitar um país como a África do Sul é uma experiência incrível, principalmente em se tratando da Cidade do Cabo, dona de uma organização ímpar e de um cuidado com a natureza invejável.
Fotos: Helenn Cordeiro/Schultz Operadora
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